Lucille Bogan, nós e o sexo

Há algum tempo o querido Felipe Killer (do Vinyyyl) postou em seu twitter um link para uma música um tanto quanto surpreendente para ouvintes mais incautos. Era uma versão “secreta” de um sucesso da cantora de jazz dos anos 20, 30 e 40 Lucille Bogan: “Shave’em Dry“.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=2ko2VXpW7_g&w=490]

Acompanhe a letra:

I got nipples on my titties, big as the end of my thumb,
I got somethin’ between my legs’ll make a dead man come,
Oh daddy, baby won’t you shave ‘em dry?
Now, draw it out!
Want you to grind me baby, grind me until I cry.
(Uh, huh.)
Say I fucked all night, and all the night before baby,
And I feel just like I wanna, fuck some more,
Oh great God daddy,
(Say you gonna get it. You need it.)
Grind me honey and shave me dry,
And when you hear me holler baby, want you to shave it dry.
I got nipples on my titties, big as the end of my thumb,
Daddy you say that’s the kind of ‘em you want, and you can make ‘em come,
Oh, daddy shave me dry,
(She ain’t gonna work for it.)
And I’ll give you somethin’ baby, swear it’ll make you cry.
I’m gon’ turn back my mattress, and let you oil my springs,
I want you to grind me daddy, ‘til the bell do ring,
Oh daddy, want you to shave ‘em dry,
Oh great God daddy, if you can’t shave ‘em baby won’t you try?
Now if fuckin’ was the thing, that would take me to heaven,
I’d be fuckin’ in the studio, till the clock strike eleven,
Oh daddy, daddy shave ‘em dry,
I would fuck you baby, honey I’d make you cry.
Now your nuts hang down like a damn bell sapper,
And your dick stands up like a steeple,
Your goddam ass-hole stands open like a church door,
And the crabs walks in like people.
Ow, shit!
(Aah, sure enough, shave ‘em dry?)
Ooh! Baby, won’t you shave ‘em dry
A big sow gets fat from eatin’ corn,
And a pig gets fat from suckin’,
Reason you see this whore, fat like I am,
Great God, I got fat from fuckin’.
Eeeeh! Shave ‘em dry
(Aah, shake it, don’t break it)
My back is made of whalebone,
And my cock is made of brass,
And my fuckin’ is made for workin’ men’s two dollars,
Great God, round to kiss my ass.
Oh! Whoo, daddy, shave ‘em dry

O lance é que essa canção em especial chama a atenção por ser bem explícita mas durante os anos 20, 30 e 40 o jazz safadinho, cravejado de duplos sentidos e eufemismos sexuais, era mais comum nos Estados Unidos do que se conhece abertamente. E mais ousado do que o bitch pop de hoje em dia, que se proclama tão prafrentex e libertário, mesmo pros nossos padrões.

Tudo isso me trouxe à memória uma discussão que tive com meu pai sobre como da geração dele para a minha ouve um processo de encaretização do sexo. Sim, a expressão social da sexualidade no cotidiano e na cultura pop se tornaram realmente mais evidentes e derrubaram tabus dos anos 60 pra cá, mas por algum motivo a maneira como a juventude vive a sexualidade hoje em dia é repleta de amarras, preconceitos e valores conservadores que não condizem com todo o discurso de que somos mais livres sexualmente que nossos pais e avós.

Os relatos e conselhos de meus pais relacionados ao sexo com base no que eles viram e viveram em sua juventude me faz entender porque tanta gente ainda se escandaliza com certas declarações que faço em mesas de bar e conversas nos fóruns e chats interwebs afora. Digo isso porque o que eu estou vendo e vivendo na minha juventude é de algum modo decepcionante para um pré-adolescente que cresceu ouvindo borbulhantes declarações sobre como a minha geração é livre, tolerante e livre de preconceitos. Sim, porque toda essa caretice sexual afeta diretamente todo o resto de nossas vidas, inclusive os preconceitos. Mas isso é sabido e não quero ser redundante.

Muito se diz sobre como a ação social coletiva é a chave da mudança de paradigmas para uma geração e/ou sociedade, mas não adianta nada toda uma conjuntura de mobilização com objetivos comuns se dentro de cada uma das pessoas envolvidas ainda residem modelos medievais de relação sócio-sexual, preconceitos íntimos e medo do novo. Falando especificamente do meio LGBT, a reprodução dos modelos heteronormativos é algo ainda muito forte nas relações e nos relacionamentos, e isso me incomoda muito porque tudo isso acaba, no frigir dos ovos, atravancando nossas lutas polítcas contra o machismo e a homofobia, afinal essas duas coisas seguem firmes e fortes dentro do próprio universo LGBT.

Enquanto pessoas como eu ainda forem tachadas de “avançadinhas demais” por pessoas que acham que o gay efeminado é sempre quem dá o rabo, que engolir porra é nojento e degradante, que se define como o homem ou a mulher da relação e insiste no conceito castrador cristão da promiscuidade, nossas metas de mudança social estarão sempre enfraquecidas e dependentes de uma certa sorte pra acontecerem como desejamos.

Se em 80 anos passamos de shows onde cantoras como Lucille Bogan cantavam o sexo com imagens explícitas e bem humoradas com liberdade para um clipe sem graça e sem força como “S&M” de Rihanna censurado em dezenas de países por seu “conteúdo sexual pesado”, está mais do que na hora de repensar a liberdade sexual dos nossos dias, não tão livre como pensamos que ela é.

Existe a famosa frase: “Pense global, aja local”. Ela também vale pro sexo.

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